Sunday, November 4, 2012

UTES x WSU 03-nov-2012

Já fazia um tempo que eu estava na dúvida se deveria assistir a um jogo de futebol americano. Os ingressos esgotam muito rápido (alguns lugares esgotam antes da temporada começar), não são baratos (variam entre 30 e 70 dólares) e aqui em SLC só há um time universitário que participa da PAC12 (uma das ligas universitárias).

A minha experiência até então nos estádios daqui não havia sido a mais excitante possível (veja o post "Something tipically american"), mas diferente do Brasil, mesmo as categorias de base tem um alto investimento aqui, em função do impressionante retorno financeiro que proporcionam.

Decidi tentar, e comprei um ingresso num lugar não tão bom, pois compramos com dois dias de antecedência. Fui acompanhado de um amigo de Recife que também reside aqui (Vitor) e costumava jogar Rugbi por lá. A presença dele foi essencial (além de agradável) para que eu entendesse alguma coisa do que estava acontecendo. Não lamento não ter entendido de futebol americano até então. Tinha outras informações mais importantes para ocupar o HD. Cada qual no seu momento.

Chegamos no estádio uma hora antes pois mesmo sendo um time universitário, os ingressos se esgotaram completamente. Para se ter uma idéia, o estádio comporta quase 46 mil pessoas. Parte destes ingressos é gratuito ou subsidiado para os estudantes e acompanhantes. O restante custou para este jogo entre 40 e 55 dólares (excluindo camarotes e sócios). Agora faz uma conta rápida aí e multiplica 40 mil por 40 (nivelando por baixo). Sim, isso dá US$ 1.600.000,00. Para um mero jogo universitário de uma liga de 12 times.

Deu para entender a magnitude do evento, certo?

Bem fui assistir com isso em mente, e o evento não me decepcionou. Além da vista belíssima do estádio (que é todo aberto) uma banda tocava em cada intervalo e durante alguns momentos do jogo junto à torcida (não é permitida a entrada de nenhum item que possa ser arremessado em alguém, inclusive instrumentos). Diversas apresentações ao longo da partida fizeram valer o ingresso, sem dúvida alguma, além do jogo em si, que foi até bastante dinâmico para os padrões normais de futebol americano.

Se no intervalo do 3o quarto um mané qualquer tivesse acertado a bola no gol, todo o estádio teria ganho um corte de cabelo grátis (válido por uma semana). Mas ele errou. Eu teria usufruido.

Ao final do jogo fomos conferir a grama. Claro que ela era sintética, não é! No meio de Utah? Não havia outra opção.

Veja o álbum de fotos, com direito a vista das Wasatch e do Upper Campus!

Little Black Mountain 27-out-2012

Como se não bastasse a vista das Wasatch olhando para o leste, essa proximidade das montanhas (conjunto que faz parte das rochosas) também proporciona algumas trilhas bem próximas, as vezes saindo do centro da cidade à pé. É claro que para chegar às montanhas saindo do centro é preciso subir, então, lá fomos nós.

A convite do Eddy (geólogo equatoriano) fomos para uma trilha que a princípio seria até o pico da Little Black Mountain, um pouco a noroeste de onde se encontram as principais estações de esqui. No meio do caminho cruzamos com um evento: uma corrida maluca de halloween onde vc é obrigado a correr fantasiado! Nunca tinha visto isso. A linha de chegada era toda ensanguentada (ketchup) e no caminho tinham pedaços de corpos: pés, mãos, até algumas cabeças (de borracha). Muito engraçado. Tinha cada fantasia...

Fomos em um grupo grande (7 pessoas) e como os ritmos eram variados, a caminhada foi mais no sentido de apreciar a paisagem. A turma era eclética (3 brasileiros, 2 equatorianos, 1 americana e uma iraniana) e nenhum andarilho profissional. Mas também não havia necessidade de correr com aquela paisagem. Eu já sabia que 11hs era sair tarde demais para uma caminhada de 13km.

De uma forma geral, como a cidade é plana, basta subir um pouco para avistar boa parte (senão todo) do vale do lago salgado. É uma "pequena" planície espremida entre o lago e as rochosas, onde um mórmon malucão achou que seria bom de estabelecer moradia (no fundo eles estavam fugindo de perseguições e encontraram aqui um porto seguro). Se na época (século retrasado) estabelecer um pouso aqui era agradável, eu não sei dizer. Mas a cidade como foi construída e como repousa hoje às margens do lago é sim bem agradável de se viver apesar do clima seco a maior parte do ano, e da neve de lascar nos meses intensos do inverno.

Até então (um pouco mais de três meses) eu não havia conseguido avistar o lago salgado de dentro da cidade, e essa vista, apesar de um pouco enfumaçada, foi um deleite para os olhos. Claro que o dedo também não parou de apertar o botão, e o resultado foi muuuuuitas fotos.

Mas vou ser gentil e postar só algumas para que não atinjamos o tédio. Veja as fotos então.

Não cheguei ao pico. Voltei as 17hs, quando chegamos à base dele. Tinha de fazer compras e chegar até o topo levaria mais umas duas horas. Mas é fácil saber que foto é ele: careca de um lado, um pouco de cabelo do outro.

Friday, October 5, 2012

Bear Lake 30-sept-2012

Fui convidado para um passeio de bicicleta ao redor do Bear Lake no último final de semana. Apesar do trabalho no laboratório estar um pouco atrasado em relação ao inicialmente proposto, decidi ir pois todos sabemos que quem trabalha demais morre mais cedo que o esperado e eu já havia trabalhado no final de semana anterior (tá parecendo que senti culpa por ter ido, não é?).

Bem, apertei o botão vermelho padrão do teclado de quem trabalha com biologia molecular e fui.

Saimos na sexta feira a tarde e a idéia era acampar de carro (aqui os parques tem uma estrutura fenomenal para acampar de carro: energia, água quente, fossa para motorhome em alguns casos, churrasqueira e outros).

2 mudas de roupa na mochila, a bicicleta na traseira do carro e fomos eu e a Lynn para o extremo norte do estado, na fronteira com Idaho.

Chegamos no local já na penumbra (quase 3 horas de viagem seguindo pelo Logan canyon) e para nossa surpresa o jantar já estava servido.

Íamos fazer o passeio junto a outras 6 pessoas, como algumas delas chegaram antes, já haviam dado conta do jantar e nos chamaram para compartilhar. O detalhe é que a média de idade do grupo terminava com "enta" e eu era o líbero. Sendo assim, desde o momento que saí de Salt Lake só conseguia pensar em uma coisa: "Se eu não conseguir completar essas 54 milhas (86,9 quilômetros) vai ser a vergonha nacional do ano". Mas enfim... nunca tinha me inscrito em empreitada tamanha, e sabia que ao menos minha bunda seria algo meramente figurativo ao final do passeio.

A manhã seguinte começou fria depois de uma noite deslumbrante de lua cheia, que foi um pouco barulhenta, pois havia um rebanho que seria inseminado no dia seguinte, bem próximo a área de acampamento. O lado A da turma combinou de sair entre as ninesh e eu e a Lynn que compunhamos o lado B concordamos em esperar esquentar mais um pouquinho. Fui dar uma volta na praia enquanto arrumavamos para sair, e só então percebi o efeito que o calcáreo provocava no lago (o Bear lake não é um reservatório, mas foi barrado para ampliação do banhado, cerca de 30 anos atrás). A água era de uma tonalidade azul que me lembrou os lagos de altitude nos desertos bolivianos. Simplesmente sem palavras.

Como todo lago grande, há sempre o mito do monstro que ali habita, e não deixamos ele em paz: paramos para tirar uma foto. Depois seguimos para a jornada. Foi muito prazeroso, e não tão cansativo como eu imaginava. A vergonha nacional não se concretizou, e diversas vezes eu me peguei saindo da estrada sem querer pois não conseguia parar de olhar para o azul deslumbrante do lago.

Obviamente eu poderia leiloar as nádegas nas 45 milhas quando paramos para tomar um milkshake de raspeberries, pois como previsto elas não tinham utilidade diante de tamanha dormência. Podia leiloar alguns dedos da mão também.

Mas valeu muito a pena. Vejam mais algumas imagens!

Depois do lago fomos conhecer o pinheiro quadrático e as wind caves, que também estão no album.

Friday, September 21, 2012

High Uintas - Ashley National Forest 13-18/Set/12

Decidimos acampar no Uintas Wilderness, uma vasta região preservada e inabitada no extremo leste de Utah.

Depois de 3-4 horas de carro chegamos até noss destino final, o posto de Swift creek, cerca de 40 min depois do centro de Duchesne, uma pequena cidade no limite com a floresta.

Saimos na caminhada, eu, greg e um amigo dele da California. Nosso destino era Farmers Lake, numa vertente oposta ao Swift Creek, após uma colina de quase 12000 pés (mais alto que qualquer pico do Brasil).

O trajeto até a passagem (blue ball pass) foi árduo pois estavamos carregando comida de para 6 dias. 15kg iniciais, sem falar a jaqueta de neve que o garoto dos trópicos teve que levar.

Alguns grupos de caçadores pelo caminho, descendo com um prêmio: o xifre imenso de um elke (não sei o nome desse bicho em português; um alce menorzinho). A noite antes de dormir (0 celsius no interior da barraca) era imprescindível fazer o bear pack (amarrar a comida no alto de uma árvore para não atrair ursos). A boa notícia é que "em água fria tem truta" e o jantar de algumas noites foi um verdadeiro banquete.

A passagem de blue ball foi surpreendende no final do terceiro dia e a visão do "vale dos lagos altos" foi estonteante. De cabelo em pé (da uma olhada), a exuberante paisagem vinha acompanhada de um cansaço em função da subida, que foi amenizado pelo declive em seguida, até onde seria nosso pouso por 2 dias.

Nada de peixe no Farmers Lake (pelo menos com fly fishing) mas muitas, muitas fotos. Certamente entrou para a lista das coisas viciantes (dei uma economizada no album para nao ficar muito cansativo).

Depois de 2 dias e baterias renovadas (fazer nada é bom, né?), era hora da descida em busca do Swift creek novamente, e o carro.

Na última noite estava arrumando a barraca e pisei fora do chão descalço, daí um galho entrou na sola do meu pé. Por sorte, no dia seguinte vimos tantas barragens de castores, que nem consegui lembrar que meu pé estava doendo. A bunch of novelties!

Sem muito mais o que dizer, veja o álbum de fotos!

"The love of heaven makes one heavenly"

Foi um longo e maravilhoso trajeto. Longo... depende do ponto de vista. Mais ou menos 4 milhas por dia, durante 6 dias. Ameno na distância, talvez nem tão ameno no aclive/carga. Mas cada árvore que mudava de cor com a proximidade do outono, cada som de um animal que parecia estar perto, cada lago formado por degelo da estação que passara me lembrava somente uma coisa.

Mais dia menos dia, mais hora menos hora, e os minutos... eu sabia que procurava algo, mas estava em dúvida exatamente do quê. Sabia que encontraria e o que me satisfaria quando acontecesse. Sabia que eu ficaria feliz, que me sentiria menos distante e plenamente calmo com isso.

Depois de um longo aclive a passagem, e o caminho traçou-se de forma mais clara. Diante de uma imensa vertente, lagos de altitude compunham parte da paisagem verde na matriz pedregosa. O tempo parou por instantes e me lembrei da atemporalidade dos sentimentos, das sensações, e de como conquistá-los é valoroso num trajeto supostamente intenso.

A descida do vale em direção ao lago, trazia a sombra consigo, que foi sucedida pela penumbra e então pela escuridão quando do erguer do abrigo. E a medida que mais intensa a escuridão se tornava, mais iluminado era o caminho até o lago, logo ali, bem perto do abrigo.

E foi então que eu encontrei! Como sempre as melhores surpresas estão cercadas pelo óbvio. Estava lá, bem diante dos meus olhos, no mesmo lugar que havia mirado diversas vezes. Eu não tinha dúvida de que era aquilo que procurava e alegre eu estava por encontrar, como esperava que acontecesse.

Você sorriu pra mim! E depois de um longo devaneio pude descansar, ciente de uma busca intensa e recompensada.

Quando eu iria ve-la de novo eu não sabia dizer. Mas como sempre, estava nos meus pensamentos.